sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"A guerra é um vício"


Aproveitando que terminei a disciplina Crítica de Cinema, vou postar a última crítica solicitada pelo professor. O filme escolhido, como definiu o educador, ficaria a nosso gosto e eu optei por falar sobre o ganhador do Oscar deste ano. Estou falando do filme GUERRA AO TERROR. Como estou meio sem tempo, como vocês podem perceber pela pouca quantidade de posts aqui no blog, vou dividir o texto com meu queridos e queridas companheiros(as)(anônimos(as) e não-anônimos(as)) que acompanham este blog.

Espero que curtam e gostem do meu escrito. Ah, gostei da minha nota! Mas não vou falar sobre isso aqui, apenas dizer que aprendi bastante com a disciplina cursada neste semestre, que está chegando ao fim.




Segue o texto:


Guerra ao Terror

(crítica)

“A guerra é um vício”. Esta é uma afirmativa que o filme Guerra ao Terror traz logo no seu começo. Afirmação que o espectador compreende, no decorrer do longa, através dos passos do Sargento William James (Jeremy Renner).

Will chega para substituir outro sargento que, assim como ele, desarma bombas no Iraque. O cenário, como percebido, é a Bagdá pós-guerra. Uma capital imersa em problemas sociais, econômicos e, principalmente, políticos. Políticos porque grupos extremistas atacam a própria população para expressar todo seu ódio pela invasão e permanência das tropas norte-americanas em seu território.

Toda essa leitura da ira é percebida nas entrelinhas ou, em alguns momentos, no próprio filme que demonstra isso. Como? Quando, por exemplo, um carro em alta velocidade cruza o caminho do Sargento James, enquanto o mesmo caminhava em direção a uma provável bomba “enterrada” no chão de uma Avenida em Bagdá. O olhar do motorista, dentro do carro, e sua resistência em não atender ao “pedido” de James para retornar e sair da área de perigo, expressa sua raiva para com o Norte-Americano.

A descrição da cena acima não é o cerne do filme. A narrativa principal do longa-metragem está centrada nos problemas enfrentados pelos soldados quando em situação de guerra, como a constante presença da morte no dia-a-dia da companhia bravo – companhia da qual James participa juntamente com outro sargento e um soldado. Durante o filme há também uma contagem regressiva dos dias que faltam para que esta companhia termine sua missão. Essa representação da contagem para os dias que faltam, que chega até o último dia, pode-se dizer que tem como significado o renascimento e o poder continuar vivo.

O desejo e a fixação na morte são permanentes, principalmente na figura do soldado Owen Eldridge (Brian Geraghty) que está sempre em conflito consigo mesmo acreditando que irá morrer na próxima missão. O medo que Eldridge sente, e sua normal “paranóia” em relação a sua morte, representa a “paranóia” de milhares de soldados que passaram ou ainda se encontram em uma guerra.

Já para o “viciado” em guerra Will, a morte não é um problema, pois ele necessita da adrenalina que a guerra, e o desarmar das bombas, o faz sentir. O sentir-se bem nessa atividade é tão intenso para James que quando é dispensado, terminando sua missão e retornando para sua vida cotidiana de cuidar do telhado da casa, fazer compras com sua esposa e filho no supermercado e preparar o jantar são tarefas que não o satisfaz. É incrível a visualização desse tipo de reação, pois há sempre relatos sobre alguns homens que se sentem muito bem nos momentos de conflitos bélicos. Mas ver isso através da produção cinematográfica torna mais palpável tal declaração.

Kathryn Bigelow (diretora) busca trazer ao público esse tipo de reflexão. Reflexão representada na atuação de um ou outro personagem , mas que pode facilmente ser a de quem assiste ao filme. O espectador pode muito bem se colocar naquela situação de stress e pensar: que tipo de “personagem” eu seria? o soldado que teme a morte ou o sargento que parece gostar de brincar com ela? Talvez para gerar tal meditação a diretora tenha optado por não escalar um elenco com grandes estrelas do cinema, evitando assim ofuscar a mensagem do vício que ações bélicas podem despertar em um ser. Mas acima de tudo - com estrelas ou não - o filme mostra que a guerra é um horror para quem a vive e para quem a assiste.


Excelente restinho de sexta-feira!

Excelente fim de semana a tod@s!


Bjs!

3 comentários:

  1. Como escrevi numa postagem de meses atrás no miradouro, sobre o Oscar, perdi o interesse por esta premição faz tempo. Motivos não faltam =)
    Das obras ali concorrentes só havia assistido duas (e isto não mudou) "Bastardos inglórios" e "A fita branca" e ambos não me enxeram os olhos.
    "Avatar" me ceirou a forma > conteúdo, ao passo que "Guerra ao terror", em que pesem seus possíveis méritos, me parece haver sido propositalmente suprestimado p/ esquentar o Oscar deste ano: disputa de ex- casal, filme que supostamente privilegia a forma (o primeiro) versus o que supostamente privilegia conteúdo (este último), enfim.
    A questão crucial p/ mim é: porque fazer um filme sobre guerra quando existe uma penca de clássicos DEFINITIVOS do gênero? Ora, mesmo que "Guerra ao terror" seja um bom filme, pergunto-me: será que ele acrescenta algo ao tema? Minha resposta a priori é: dificilmente/ provavelmente não.
    Vou expor um calcanhar de Aquiles do filme, que seu texto (ainda que sem intenção, já que só falas bem da obra =) me apontou já na primeira frase, qual seja, "A guerra é um vício", frase esta rica em possibilidade a serem exploradas, mas muito pouco original, mesmo no cinema.Há uma citação num livrinho de história (se não me engano, da série princípios, se não for é da coleção primeiros-passos) intitulado "A guerra na Grécia antiga" em que se afirma "A guerra é o pai de todas as coisas e de todas o rei; de uns fez deuses, de outros, homens; de uns, escravos, de outros, homens livres." (Eu não estava certo, mas digitei o início da frase no google - bendita internet! - e confirmei tratar-se duma frase do filósofo "pré-socrático" Heráclito de Éfeso; cabe salientar que, embora a guerra fosse bastante popular na antiguidade - vide os romanos, os hunos - a citação parece estar descontextualizada no livro, pois parece tratar mais do confronto de opostos do que da simples guerra militar entre humanos, tendo, portanto, um sentido bem mais amplo). O livro é interessante por mostrar como esse "vício" na guerra não é exclusividade moderna, como fica claro tbm nas Cruzadas.
    Mas adentrando especificamente no campo cinematográfico, um dos clássicos absolutos não só do gênero guerra, mas do cinema como um todo chama-se "Apocalipse now"; nele, há uma fala clássica de um militar carniceiro: "adoro o cheiro de napalm pela manhã". OLhando direitinho, é a mesma frase usada em "Guerra ao terror", só que estilizada, e, portanto, mas impactante (e porque não?, humanizada). Outros dos filmes absolutamente indispensáveis sobre guerra são "PLatoon" e "Nascido para matar", todos sobre o Vietnã; há ainda diversos outros filmes excepcionais sobre guerras, não só as duas mundiais. Talvez a inovação de "Guerra ao terror" seja tratar especificamente dum conflito mais recente, e de certa forma, ainda em andamento, bem como o enfoque de uma guerra não entre dois exércitos militares, mas entre militares invasores e milicias ocultas (isso lembra Vietnã...). Desde os excelentes "O resgate do soldado Ryan" e "Além da linha vermelha", da década de 90, os únicos filmes de guerra que p/ mim se justficaram após estes foram os dois de Clint Eastwood: "As cartas de Iwo Jima" e "A consquista da honra" e mesmo assim este último me parece nitidamente inferior ao primeiro. Sei lá, vai ver que me enganei em minha impressão a priori...

    ResponderExcluir
  2. Vc foi longe! adorei o seu coment!
    Quis focar mais na questão do vício e dos tormentos q a guerra faz ao ser humano. Então, acredito q o destaque ao " a guerra é um vício" diz por si só os danos que um conflito bélico é capaz de fazer para um homem ou homens. E q cada um pode encarar de formas diferentes, mas todas as formas são prejudiciais, independente da maneira de como a guerra é enfrentada/encarada.


    mais uma vez: seus comentários são ótimos!

    abraços, Miradouro!

    ResponderExcluir
  3. Então, isso me parece um lugar-comum nos filmes clássicos sobre guerra, como que uma espécie de condição necessária p/ uma obra verossimil e profunda; fiquei alguns segundos pensando em qual dos diversos exemplos expor, e ei que me veio a luz: o gordinho de "Nascido para matar"; sua transformação de bobalhão em máquina de guerra, bem como seu olhar demoniaco (a demonização humana, não metafífica!) é p/ mim um dos ápices da atuação em todos os tempos. E cabe salientar que tal transformação não se dá na guerra, mas no quartel de treinamento p/ ela, um verdadeiro inferno. Neste caso, a assertiva satriana se justifica: "O inferno são os outros".

    ResponderExcluir