terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Em um musical nada de horrível acontece"


O título desse post foi retirado da fala de Selma Jezková(Björk). Selma é uma imigrante Tcheca que vive nos estados Unidos com seu filho Gene(Vladica Kostic). Mora em um trailer alugado na propriedade do policial Bill(David Morse) e de sua esposa Linda(Clara Seymour), trabalha em uma fábrica de indústria metalúrgica com jornadas de trabalho pesadas. Lá, tem na sua fiel amiga Kathy(Catherine Deneuve - atuou no filme Indochina) um suporte e apoio que encanta aos olhos de quem vê.

A sinopse relatada acima é do espetacular filme Dançando no Escuro(direção Lars von Trier - mesmo diretor de Dogville). Um filme que retrata a história de Selma,como já dito, que sofre de uma doença hereditária degenerativa que culminará em uma cegueira. A sua ida para a América é em busca de cura para o seu filho. Para isso, economiza o que pode para a cirurgia de Gene.

Dançando no Escuro(Dancer in the Dark) é do gênero drama musical que traz a cantora islandesa Björk no papel principal da trama. Björk rouba a cena tocando o coração e despertando a emoção de quem assiste aos 141 minutos de filme. Sua Selma adora os musicais de Hollywood e, geralmente, enquanto trabalha na fábrica(ou onde quer que esteja) entra em seu mundo de sonhos e se desliga do mundo a sua volta. No entanto, para conseguir o "desligar-se" do mundo ela necessita ouvir barulhos, que podem ser da água escorrendo no rio ou das máquinas da fábrica. A explicação para isso vem em uma de suas falas, quando Selma é questionada do motivo do seu "sonhar" acordada, ela diz: "Quando estou trabalhando na fábrica e as máquinas fazem uns ritmo começo a sonhar, e tudo se torna música." O complemento dessa fala vem posteriormente em uma conversa com Bill, quando ele descobre sua doença e sua luta na busca pela cura do seu filho, questionando como ela consegue ser tão forte. E ela diz que ama os musicais pelo simples motivo que os filmes a faz sair da sua realidade difícil, assim ela consegue obter uns minutos de fuga da realidade que a cerca. A única reclamação dela sobre os musicais é que não gosta quando chegam ao fim, por isso sempre busca sair do cinema na penúltima cena. Assim, o filme e o lúdico permanecem com ela por mais tempo, pois não há final. Lindo, né?

O filme todo é de uma beleza inenarrável. Nos momentos em que Selma inicia suas canções e suas danças, a imagem repassada está imersa em um colorido suave. E as letras das músicas - por sinal, lindas - são correlatas ao momento em que a personagem se encontra na cena. O amor dela é tão grande pelos musicais que a mesma ensaia para um. Atuar em um musical é um sonho seu, sonho que não consegue realizar devido a sua doença e ao fato do roubo do dinheiro para cirurgia de Gene. Dinheiro que ela vinha economizando por um tempo considerado.(NÃO CONTAREI O DESENROLAR DO ENREDO PARA NÃO ESTRAGAR O FILME PARA QUEM NÃO VIU AINDA)

O que posso contar é que o filme é um dos melhores que já vi. Não sei se serei clara, mas a sensação que essa obra de arte faz sentir traz um misto de tristeza e encantamento. Explico como: quando perguntava para amigos que já haviam assistido ao filme, como era Dançando no Escuro, me falavam: "é belíssimo o filme. Mas nos deixa bastante triste no fim." Houve ainda relatos de amigos que saíram do filme muito tristes, mas ao mesmo tempo elogiando muito o longa. Afirmando ainda ser de uma beleza rara na cinematografia.

As músicas e a voz de Björk dão o tom do filme. Difícil eleger uma que seja mais bela, mas posso falar de uma que faz parte de uma das cenas que mais amei. Quando ela está caminhando, com Jeff(Peter Stormare), nos trilhos do trem e começam a cantar I've seen it all(eu já vi tudo). Vou postar a letra que traz um momento do filme onde temos uma visão muito introspectiva da personagem. A letra diz:



Eu já vi tudo, eu vi as árvores,
Eu vi as folhas de salgueiro dançando na brisa
Eu vi um homem ser morto por seu melhor amigo
E vidas que se acabaram antes de serem vividas
Eu vi o que eu era - eu sei o que eu serei
Eu vi tudo - não há nada mais para se ver

Você não viu elefantes, reis ou Peru!
Estou contente de dizer que tive um coisa melhor para fazer
E a China? Você viu a Grande Muralha?
Todas as muralhas são grandes, se o telhado não cair!

E o homem com quem você se casará?
A casa que você compartilhará?
Para ser franca, eu realmente não me importo...

Você nunca foi às Cataratas de Niagara?
Eu vi água, é água, isso é tudo...
A Torre Eiffel, o Empire State?
Meu pulso estava tão alto no meu primeiro encontro!
A mão de seu neto enquanto ele brinca com seu cabelo?
Para ser franca, eu realmente não me importo...

Eu vi tudo, eu vi a escuridão
Eu vi o brilho em uma pequena faísca.
Eu vi o que eu escolhi e eu vi o que eu preciso,
E isso é o bastante, querer mais seria ganância.
Eu vi o que eu era e eu sei o que eu serei
Eu vi tudo - não há mais nada para se ver

Você viu tudo e tudo viu você
Você sempre pode revisar na sua própria pequena tela
A luz e a escuridão, o grande e o pequeno
Apenas se lembre de que - você não precisa de mais nada
Você viu o que você era e sabe o que você será
Você viu tudo - não há mais nada para se ver



A título de esclarecimento, a canção acima é cantada pelos dois personagens: Selma e Jeff. Jeff questiona se ela tem problemas na visão e indaga - afirmando- que ela não enxerga. E Selma responde dizendo: "O que há para se enxergar?" A partir dessa fala tem inicio a música/diálogo entre os dois. Enquanto ela vai "falando" que já viu tudo, ele vai "perguntando" sobre coisas que ela ainda não viu. Como se mostrando que ainda há coisas belas para serem apreciadas e vistas por ela.

Enfim, é um filme belíssimo mesmo. Me encantou e emocionou bastante. O final é...é indescritível o tamanho da minha emoção naqueles momentos finais do filme. Digo uma coisa: não dá para segurar as lágrimas. Não mesmo.

Vejam Dançando no Escuro e se emocionem com uma das histórias, e filme, mais belas dos últimos tempos do cinema.

Para terminar o post vou deixar uma fala que surge no fim do longa-metragem:

"Dizem que é a última canção,
mas eles não nos conhecem
só será a última canção
se deixarmos que seja"

Ficaram sem entender a colocação acima?
Vejam o filme que entenderão =)


Boa quarta-feira a todos!

Bjs!



4 comentários:

  1. Poxa vida,Marcia esse filme deve ser incrivel...eu amo filmes musicais...
    Estou anotando todas suas dicas de filmes pra estar assistindo.....
    beijão....Sol

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  2. Oi Sol,

    eu tb amo musicais!

    espero q gostes das dicas :)

    Bjs!

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  3. Considero-me fã de Lars Von Trier, no entanto, tenho de confessar que definitivamente não gostei de dançando no escuro. Aliás, definitivamente não, pois faz pelo menos 2 anos que o vi, e foi tão somente naquela vez (não lembro se isto foi antes ou depois de conhecer “Dogville”, mas certamente foi antes de conhecer outros filmes dele). A questão central é: não digo que o filme seja ruim, mas que eu, por questões subjetivas, não gostei. Pensando sobre isso recentemente (e isto se deu quando vi tua postagem, antes mesmo de a ler – vi-a a alguns dias, mas só a estou lendo agora, quando tenho tempo e coragem de responder), cheguei a uma conclusão: todos os filmes do cineasta que assisti me causaram certo mal-estar (exceção feita talvez a “Europa”, mas este eu nem levo muito em conta); no entanto, “Dogville”, “Manderlay” e “Anticristo” provocam-me tbm um deleite estético (sobretudo este último), uma catarse (sobretudo o primeiro) e quiçá, certa identificação. “Dançando no escuro”, não. Talvez o grande problema seja Björk; como cantora, ela até me agrada, ainda que não fascine; mas como atriz, me provoca certa repulsa (e tal sentimento não é exclusivamente meu). Interessante isto que puseste, do colorido suave durantes os delírio (sonhos) da protagonista; antes de assisti-lo, vi uma profa. de filosofia dizer que se tratava de um filme nietzschiano, justamente neste sentido da arte como não somente fuga da realidade, mas como justificação da vida, aquilo que a torna suportável (isso no Nietzsche dos primeiros escritos, influenciado por Schopenhauer) e se não me engano, ela mencionou esta intensificação de cores em tais passagens; isso me parece fundamental, pois um diretor do qual sou fã incondicional é Luis Fernando Carvalho (atualmente a Globo exibe sua série “Afinal, o que querem as mulheres?”, mas destaco aqui seu filme “Lavoura arcaica”; ele trabalha muito bem com as cores, mas tenho a impressão que as intensifica nos momentos lúdicos, ainda que nele, o lúdico e o real se misturem de modo bem mais estreito que neste filme de Trier (neste, fica claro que as partes musicais são sonhos). Talvez o fato se ser um musical (já disse que nao gosto do estilo em sua postagem sobre ??) seja outro motivo p/ minha implicância com o filme. Mas voltando a esta questão da cor e do encantamento que pusseste: penso que isto seja a apontamento de um cunho artistico existente nele, o qual não vejo em outros filmes, como o “Nossa lar”, do qual tanto gostasses. Evidentemente, não estou dizendo que não artistico equivale a ruim e mesmo que artistico equivalha a bom. Tarkovski tem filme artisticos que são potentes soníferos...
    Hum, “O que há para se enxergar?”; isso dá muito pano para manga, no sentido de enxergar a vida com outros olhos. Merleau-Ponty diz que a filosofia é um reaprender a enxergar... Me destes idéias p/ trabalhar o filme em questão, obrigado” ^^
    Bom feriado.

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  4. Oi Miradouro,
    eu acho q preciso rever Dogville.

    Muito interessante a parte q vc fala de Nietzsche.

    bjs!

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